3º Lugar no Concurso Nacional Marlisco (6ºH)

07-05-2014 15:24

 

Dos 44 contos infantis que foram apresentados ao concurso nacional, um grupo de alunos do 6º H de Ciências, da EB de Gualtar, conseguiu um brilhante 3º lugar!

Este concurso incentivado pelo Clube da Floresta Urbana de Gualtar, foi integrado no projeto MARLISCO - Marine Litter in Europe's Seas: Social Awareness and Co-responsibility, um projeto europeu financiado pela Comissão Europeia no âmbito do 7º Programa-Quadro (FP7) para a Investigação & Desenvolvimento. Neste projeto estão envolvidos mais 14 países europeus.

Parabéns a todos os envolvidos.

 

Aqui fica o conto premiado:

 

Em Busca do Sétimo Continente

 

Era uma vez um saco de plástico chamado Sack, igual a tantos outros, à disposição dos clientes num hipermercado de Braga. Era um saco simples, branco, mas desde cedo mostrou o seu carácter no momento em que foi arrancado dos seus irmãos, resistindo até que a ligação acabou por se romper. A partir daí a sua vida mudou para sempre. Serviu com orgulho uma família, que lhe colocou meia dúzia de artigos dentro. Sack sabia que este era o seu destino, servir quem fosse às compras.

Ao chegar a casa Sack ouviu um cão a ladrar, que, muito trapalhão, se atirou para o dono fazendo cair as compras todas ao chão. De tão vazio que ficou voou muito alto. Quando estava no alto do céu, olhou para baixo e viu um mundo de objetos de plástico que ele jamais imaginara existir. Mas o vento, caprichoso, acabou por o fazer rodopiar deixando-o assustado com o seu destino.

Foi parar ao rio Cávado. No rio viu peixes, de todos os tamanhos e variedades, tendo acabado por se afundar.

Passado algum tempo começou a emergir encontrando um sapo que lhe perguntou o seu nome. Sack respondeu timidamente e começaram a conversar sobre a vida naquele local e Sack, percebeu que ali não era o seu lugar, pois os peixes afastavam-se com medo e não tinha utilidade naquele lugar.

Arranjou forças e foi continuando a sua viagem até à foz, acabando por desaguar em Esposende. Lá, observou outros peixes e até se cruzou com uma lampreia. Continuou a sua viagem em busca de um espaço que o fizesse sentir-se útil.

Num dia muito escuro, chegou a famigerada tempestade Hércules. Hércules tinha ondas que pareciam maiores que uma casa! Ficou aflito, tal era poderosa a tempestade que arrastou árvores e carros, bem como a ele.

Foi arrancado do fundo do mar e parou na praia de Cepães onde acabou por adormecer exausto. No dia seguinte, acordou, olhou à sua volta e reparou que outros objetos de plástico estavam ao seu lado.

Uma cadeira de café, velhinha, chamou a sua atenção. Sack, transportado pelo vento, ficou amarrado a uma das suas três pernas e, cheio de coragem, disse:

- Olá, amigo?

- Olá! Respondeu a cadeira velhinha.

- Fui arrastado para aqui e não sei como vou sair. Vim pelo rio abaixo. E tu, como vieste cá parar?

A cadeira contou que perdera a perna num dia em que um ser humano tentara subir às suas costas, e que depois deste episódio foi atirada ao mar e agora com a tempestade, fora arrastada para a praia.

Vendo Sack tão atento, continuou a falar recordando os anos de utilidade ao serviço dos humanos. Foi então que Sack olhou à sua volta e disse:

- Não sirvo a nada! Nem homens nem animais me querem, fogem de mim, escondem-me em vez de me transformar. Sinto-me perdido!

- Tem calma. Eu ajudo-te a encontrar o 7º continente, um continente só nosso - disse-lhe ela.

- O que é isso do 7º continente?

- É um continente onde o plástico reina em abundância, que se junta com ajuda das correntes marítimas. Fiquei a saber, da boca de Patrick Deixonne, líder de uma equipa de investigação, que iriam estudar uma zona de acumulação de plástico que tinha uma área maior que a Índia! Os detritos plásticos juntam-se num ponto onde as correntes marítimas e enrolam-se por efeito da rotação da Terra formando um imenso vórtex a que se chama “giro”. Milhões de toneladas de detritos provenientes das costas e dos rios flutuam nos cinco giros, repartidos por todos os oceanos.

- É um enorme continente de plástico! Onde é?- disse Sack.

- Procura as correntes marítimas que te levem ao Atlântico e lá acabarás por ser levado para um local entre Portugal e a América.

Ele entusiasmou-se, mal sabendo o que o esperava.

A sua mentora disse-lhe que teria de aproveitar uma vaga mais forte para se desprender de si e deixar-se levar até ao fundo do mar, para que as correntes fizessem o resto. Ele procurou a vaga certa e lá foi ele.

O início da aventura foi complicado, pois ele ia sendo agarrado por algas e lixo do mar. Mas lá se foi rasgando e libertando-se das coisas que iam poluindo o mar.

Quando o sol já estava baixo, apercebeu-se que chegara ao seu destino e que se encontrava rodeado de plástico desfeito, suspenso na água do mar, criando um continente de plástico. Alegremente gritou:

- Cheguei ao continente onde os humanos não estão por perto para se desviarem de nós e nos tratarem como inúteis!

As suas palavras ecoaram na profundeza da água. Estranhou o silêncio, mas lançou umas palavras para um objeto de plástico que estava ao seu lado, que de tão maltratado, não se conseguia perceber o que era.

- Olá! Estou tão contente por estar aqui, nesta terra prometida!

O objeto respondeu:

- Contente por estares aqui?! Olha bem à tua volta e pensa bem se isto é a terra prometida... Aqui não passamos de pedaços de plástico perdidos no oceano, bem longe do olhar dos humanos, tal como eles sempre quiseram!

Sack, olhou para o lado e estupefacto reparou que nada parecia viver, todos estavam em suspensão. Nem animais existiam, pois os peixes tinham morrido ou fugido, o ambiente tornara-se inóspito para a vida, demasiado poluído para que o plâncton pudesse ser saudável.

Sack perdia a memória da sua vida passada, deixava-se baloiçar pelas ondas. Sabendo que nenhuma corrente o conseguiria levar.

Um dia ouviu-se um barulho de um barco de forma estranha. Era um barco, o Ocean Cleanup Array, inventado por Boyan Slat, um holandês. Tinha filtros gigantes, ia recolhendo todo o material flutuante, incluindo Sack.

Após o plástico recolhido, a fauna oceânica ficaria a salvo e ele e os outros plásticos seguiriam o caminho natural que desde o início os devia ter levado à reciclagem.

Sack finalmente adquiriu alguma dignidade num centro de reciclagem junto à costa portuguesa, que sendo a 11ª maior área mundial de águas jurisdicionais, à frente de países como a Índia e a China, era pioneiro na limpeza do mar e na reciclagem dos objetos encontrados.

No centro, Sack voltou a encontrar a cadeira velhinha que lhe gritou:

- Vamos ter uma vida nova! Vão dar-nos uma nova oportunidade, vamos ser transformados e ser voltarmos a ser úteis!...

 

Conto coletivo do 6ºH da EB de Gualtar